sábado, 28 de agosto de 2010

Busquei você na noite. (Silvana Duboc)



Busquei você na noite
em olhares que eu não conhecia,
em bocas que eu não queria.
Busquei você e a noite me pareceu tão vazia.
Senti uma grande agonia
de o perceber tão distante.
Nada foi como eu desejaria.
Uma cerveja, duas,
uma inútil companhia
que nada me dizia.
Busquei você na noite,
em novos bares, em outras ruas
mas só o achei na minha loucura,
entre a minha emoção
e a minha insana imaginação.
Busquei seu cheiro em outros corpos
e a minha tristeza afoguei em muitos copos.
Busquei você logo que a lua apareceu,
mas nessa noite não achei você, nem eu.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Silêncio do Vento (Maria Valadas)

Procuro um lugar para me esconder
fugir da minha morada secreta
inundar-me numa sensação de paz
sentir-me num lugar especial...
vestido de orquídeas e açucenas.

E reter-me nos tons do pôr-do-sol...
reflectidos nas àrvores
e no canto dos pássaros.

Penso como será maravilhoso...
encontrar um lugar onde se ouve o silêncio do vento
e o canto das corujas quando anoitece.

Rasgar o olhar no crepitar de uma lareira
e saborear a lua...
que me inspira, ao deixar que a vida aconteça.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O despertar das mágoas (Maria Valadas)

Ficará impressa na alma
a melodia dos sonhos,
refletidos…
em pesadelos,
no despertar…
das mágoas
nas longas manhãs perenes
sendo desfeitos…
em secas pétalas
nas longas fantasias ilusorias 
perpetuando…
a peregrinação,
ao labirinto…
do meu maculado coração
que jaz na paz…
do símbolo que lhe idolatrei
tornando-me…
a saltimbanca,
dum amor que um dia…
desejaria que fosse meu. 

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ao meu mentor Donízio (Deise de Macedo)

Eu tenho um anjo protetor, eu tenho.
Está sempre presente em meus melhores
momentos e nos piores também.


Segura minhas mãos no afago doce acalentador
e nas firmes decisões a tomar pela estrema 
vastidão dos caminhos pela vida.


Espreita meus sentimentos de culpa
trazendo conforto ao meu coração tão 
abalado pelos atropelos da vida.


Me proporciona conforto quando meu corpo
quer paz e aconchego no leito do meu quarto,
guarda  meus segredos que só nós sabemos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

De que são feitos os dias ? (Cecília Meireles)






De que são feitos os dias ?
De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inaturais esperanças.

De loucuras, de crime,
de pecados, de glórias,
do medo que encadeia
 todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces e
 em sinistras alianças.



terça-feira, 17 de agosto de 2010

Angelicais (Sylvia Cohin)


Se é tempo de agradecer,
quem é mais feliz sou eu;
o que fiz pra merecer
os anjos que Deus me deu?

Se de chorar eu preciso,
se sorrisos me apetecem,
basta olhar o paraíso
que esses 'anjos' me oferecem

E quando me vejo aflita
de 'asa caída' a penar,
há sempre um anjo que agita
asas... e põe-me 'no ar'...

Não é canto nem é reza
o que essa trova vos diz,
são palavras de quem preza
o dom de 'fazer feliz'...

domingo, 15 de agosto de 2010

Voa Pensamento... (Guida Linhares)



Quisera neste momento,
morar na curva de um rio,
de águas claras e cristalinas,
de murmúrio suave e repousante.

Quisera mais ainda..
que o tempo parasse um instante,
e só um pensamento meu voasse,
num sentir quase em prece,

pedindo aos ventos da tarde,
que fossem sutís mensageiros,
da mais sentida saudade,
de você que partiu sem alarde.

De um lado da curva sinuosa,
parece que voltas correndo,
mas do outro lado nem sombra,
nem palavra traduzindo sentimento.

Na miragem das águas,
ainda vejo o teu rosto sorrindo,
desejando que eu seja alegre e feliz...
mas como poderei ser, assim sem você?


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Soneto da Despedida (Afonso Estebanez)



Foi necessário que chovesse tanto
para que tanto mais o sol voltasse
a refletir a luz que a dor do pranto
inundou de penumbra minha face.

Foi-me defeso ressentir do quanto
sob a cinza do amor em desenlace
ainda me encantaria o desencanto
se esse rio de mágoa não secasse.

Não refaças o curso dos meus rios
nem acenes ‘adeus’ para os navios
de sonhos idos do meu velho cais.

Não levo nada... Só a necessidade
que ainda tenho de sentir saudade
dos teus momentos lívidos de paz.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dormi contigo (Pablo Neruda)



Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha. 
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, 
entre o fogo e a água. 
Talvez bem tarde nossos 
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam. 
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado 
e teus olhos buscavam o que agora - pão, 
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos, 
porque tu és a taça que só esperava 
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira, 
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos, 
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura. 
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca 
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida, 
e recebi teu beijo molhado pela aurora 

como se me chegasse do mar que nos rodeia.


domingo, 8 de agosto de 2010

No Caminho (Meimei)



NO CAMINHO

Plantemos flores onde repontem,
ameaçadores, espinheiros agrestes.
Lancemos a mensagem do bem,
onde o mal procura envolver situações, criaturas e coisas,
estabelecendo aflições inúteis.
Estendamos os recursos da amizade leal,
onde a discórdia tente consolidar o escuro domínio que lhe é próprio.
Auxiliemos com o nosso concurso irmão,
onde a leviandade desajuda.
Façamos da solidariedade a bandeira de nossa marcha permanente
para diante, dentro da nossa sede de progresso porque, em verdade,
somente a compreensão, a tolerância e a fraternidade,com o perdão e o
amor por normas inalteráveis de serviço, conseguem efetivamente
amparar, lenir, soerguer e salvar. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Saudade (Bernardina Vilar)



Saudade é uma dor suave e forte!
Cicatriz a sangrar dentro da gente. . .
E a vida em flor com sensação de morte;
Amanhecer com sombras de poente.

Saudade! Insônia de quem não se importe
De sonhar envolvido em sono quente.
Nuvem de sol, calor que desconforte
A alma gelada, tiritante e ardente.

Saudade é a expressão indefinida. . .
Verso incompleto de canção dorida...
Minuto que se fez eternidade!

Recado extraviado no caminho. . .
A paz da ave que perdeu seu ninho...
Melodia de pranto é o que é Saudade.


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esta impaciência que me divide (Cecília Meireles)

Esta impaciência que me divide
esta melancolia que me entontece
este desejo pungente de estar um pouco em toda parte
esta incapacidade de aquietar-me
este sonho de ser depressa, antes da morte
de ser o que?
de concluir que destino longamente esperado,
entrevisto na bruma de dias não vividos,
no sonho de noites calmamente extintas?
- de ser estritamente o servidor adequado,
o mensageiro que entrega a mensagem no exato instante
o servidor que dá conta de seu trabalho no prazo certo
o que ouve o chamado e vai,
recebe as ordens e cumpre,
e dá todos os dias de seu tempo humano
para esse fim obscuro,
e está continuamente correndo por dentro de si,
em varandas, passadiços, subterrâneos,
apenas entrevendo em adeuses a estrela que ama,
o pássaro que o comove,
a extensão da terra iluminada, do mar imenso
por onde, entre suas tarefas,
suspiro, saudade, esperança, obediência, renuncia,
em pensamentos foge,
em pensamentos volta,
subitamente enfermo da culpa
de assim fugir,
de assim voltar. 

domingo, 1 de agosto de 2010

E muitas vezes... (Larissa Alves)


E muitas vezes eu não reconheço as pessoas que amei nos rostos que hoje avisto, falta algo além da aparência, além da distância, além das imagens e também além do ego. Fica difícil captar as essências e restam somente algumas palavras soltas, uns assuntos decorados e umas falas, por deveras, rápidas demais. Começa a desaparecer o antigo entusiasmo e as memórias ficam cada vez mais entre os paradoxos. Começa-se então a inventar desculpas, o tempo fica cada vez mais ocupado e os espaços que antes eram sempre encaixados começam a padecer.